Gelada, incrédula, dei um salto na cadeira e debruçando me sobre a mesa, exclamei:
"Hein?!!? O que me estás a dizer António? ... A Laura deixou te?!"
Com os olhos presos no Horizonte, acenou com a cabeça afirmativamente. Não conseguia falar. Mas eu queria tentar perceber, por isso insisti, preocupada:
"Mas... quando foi isso? ... O que aconteceu? Ela saíu de casa?! Não posso acreditar..." ao que ele respondeu, desolado:
"Tu bem sabes que as coisas não andavam bem... Mas desta vez ela arrasou me..." e naquele momento vi os olhos dele cheios de água, quase a transbordar...
"Calma... tem calma, que isto vai se resolver."
Num minuto de silêncio, acendeu um cigarro e perdeu novamente o olhar no Mar...
Sim, eu sabia dos problemas deles, dos altos e baixos, das discussões... Sabia das frustrações da Laura, das suas desconfianças ... e também sabia das infidelidades dele... Sem conseguir perceber, tudo me passou pela cabeça, mas estava longe de imaginar o motivo daquela separação.
Fumou, e finalmente, contou me:
"Desta vez é sério... eu não sei para onde foi, mas já saiu de casa há 4 dias. Tem ligado todos os dias para os miúdos, ... mas nunca quer falar comigo."
Desta vez a Laura tinha chegado ao limite (pensei eu)... Deixou os 2 filhos, uma casa, e um casamento de quase 20 anos... e disse lhe:
"Dá lhe tempo e espaço, vai lhe fazer bem... não a pressiones." ao que ele respondeu:
"Tu não estás a perceber! Ela tem outra pessoa. Disse mo na minha cara! Está apaixonada por outra pessoa!!" e aí vi no olhar dele um misto de tristeza, raiva e desespero...
Então o António contou me que no fim de semana passado, estavam em casa, quando ele precisou dos documentos da Laura e dos miúdos, para tratar das matrículas nas escolas... Ela estava na cozinha, a tratar do jantar... por isso ele foi á carteira dela procurar os documentos. E enquanto remexia na habitual confusão das carteiras de mulher, ela apareceu, visivelmente incomodada e perguntou lhe:
"Que estás a fazer? ... a mexer nas minhas coisas?!"... e num impulso, arrancou lhe a carteira das mãos, procurou os documentos, entregou lhos, e tentou disfarçar, amarga:
"Não gosto que mexas na minha carteira!!! Além disso, não sabes onde guardo essas coisas... Pedias me, que eu vinha buscar..." pousou a carteira, e voltou á cozinha...
É óbvio que esta reacção de Laura deixou o António desconfiado, mas soube esperar ... e mal teve oportunidade, enquanto todos dormiam, desceu as escadas para o rés de chão, pegou na carteira da mulher, e procurou... Não sabia bem o que procurava, mas de repente, pegou no telemóvel dela... Desbloqueou as teclas, e continuou a procurar ... Aí sim, descobriu algo... A única coisa que o fez estremecer... O telemóvel não tinha quaisquer registos... Zero mensagens; nem recebidas, nem enviadas, Zero registo de chamadas... Nada!!! Achou muito estranho, e mais tarde viria a questionar Laura sobre assunto... Tinha de o fazer. Havia concerteza uma explicação...
"Então e perguntaste lhe... ?" questionei eu ..
E ele confessou me que nunca esperou que essa tal pergunta, gerasse aquela conversa, e tivesse aquele desfecho ... A separação deles.
Disse me então que no dia seguinte, á hora de almoço, a questionou sobre o telemóvel e que a primeira reacção de Laura, foi tentar fugir, não dar explicação... Fingir que não tinha respostas para dar ao marido... Mas ele insistiu e pressionou a, até que, sem forças para continuar a fugir á realidade, ela lhe revelou que estava apaixonada por outro homem...
"Disse mo assim... Com uma frieza que não lhe conhecia... Que não aguentava mais a nossa Vida, que se sentia sem forças para continuar, que tinha direito á felicidade ... Que já não sabia que sentimentos tinha por mim! E que precisava de viver aquela paixão!!" e uma lágrima correu lhe a face.
A Laura tinha outra pessoa!! E o meu amigo sentia se traído, perdido, e com medo do futuro. De facto, nunca tal me tinha passado pela cabeça... Pelo que conhecia da Laura, ela era uma mulher equilibrada, ponderada, mãe exemplar, a vida deles corria bem... Mas ela queria mais da vida... E eu percebia a. E quando eu procurava as palavras certas para o reconfortar, o telemóvel dele, pousado em cima da mesa, vibrou. Surpreendido, ele exclamou:
"É ela!!!"
Não eras
Há 5 meses
2 comentários:
Ás vezes é preciso pressão apenas para saber aquilo que já sabemos, muitas dessas vezes as mentiras ficam cada vez mais enredadas nas verdades até que já não se sabe onde começa uma e acaba a outra.
"A verdade liberta" L.
Anónimo (L.)
Liberta, sim... Sem dúvida!
Obrigada pelo comentário :)
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